Com muita frequência sinto um significativo receio de meus colegas em sinalizar em suas análises aqueles riscos que não estão amparados em ferramentas objetivas, supostamente “aceitas pelo mercado”.
Isso é um erro. Para com isso. Perca esse medo.
Embora ferramentas objetivas sejam importantes, o processo de entendimento do trabalho vai muito além do que RULA, OWAS, KIM, Suzanne Rodgers ou Niosh pode nos dizer.
E veja, não sou eu que estou dizendo. Está lá escrito no Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora 17 (NR-17), desenvolvido pelo próprio governo.
“17.1. Esta Norma Regulamentadora visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. A palavra parâmetros criou uma falsa expectativa de que seriam fornecidos valores precisos, normatizando toda e qualquer situação de trabalho.”
Ainda sobre a falácia de parâmetros objetivos, o manual de aplicação da NR-17 continua…
“A regulamentação em segurança e saúde no trabalho quase sempre diz respeito a limites de tolerância que podem ser medidos objetivamente. O mesmo não ocorre aqui. Para se avaliar o conforto, é imprescindível a expressão do trabalhador. Só ele poderá confirmar ou não a adequação das soluções que os técnicos propuseram. (..) A origem das atuais inadequações deve-se, em grande parte, à separação radical entre a concepção das condições e organização do trabalho e a sua execução. (..) os trabalhadores nunca são consultados sobre a qualidade das ferramentas, do mobiliário, sobre o tempo alocado à realização da tarefa etc. A ergonomia surge para colocar o trabalhador novamente como agente das transformações“.
Costumo dizer que Ergonomia não é fácil nem difícil, apenas é diferente. Por quê?
Porque ela não é uma ciência exata. Ela carrega consigo um quê de subjetividade.
E esta subjetividade vem de um elemento essencial, crucial, indispensável no processo de análise do risco ergonômico. Este elemento chama-se “trabalhador”. Não existe ergonomia sem entendê-los. Sem consultá-los. Sem dar voz a seus desconfortos.
Faça isso e terá a excelente oportunidade de aproximar quem concebe de quem executa a tarefa e, aí sim, propor melhorias para processos mais confortáveis e eficientes.
Utilize sim alguns parâmetros objetivos. Mas não espere sempre por eles. A boa ergonomia agradece!