Reconhecimento de riscos: desmistificando os fumos metálicos

Os fumos metálicos, muito conhecidos no ramo da soldagem, são a forma como determinados agentes químicos são dispersos no ambiente. Eles podem conter diversos agentes nocivos, os quais, muitas vezes, geram dúvidas sobre sua identificação por parte dos profissionais de SST.

Geralmente  constituídos por partículas de 0,005 a 2 milímetros de diâmetro, os fumos metálicos são formados a partir de vapores e gases que se desprendem das peças em fusão.

Estes vapores e gases, em contato com o oxigênio do ar e após resfriamento e condensação, oxidam rapidamente, formando-os.

Vamos entrar um pouco mais a fundo neste assunto agora.

O processo e os agentes

O processo de soldagem pode conter diversos metais entrando em composição e formação de fumos metálicos, portanto, nem todo fumo metálico será igual.

A diferença vai depender basicamente do tipo de metal utilizado naquele processo de soldagem e da vareta ou eletrodo, pois cada um poderá afetar de forma específica a saúde do soldador envolvido no processo.

Vamos citar agora os metais comumente utilizados no processo de soldagem:

  • Cobre: intoxicações por cobre são raras, pois é um metal que dispõe de mecanismos de eliminação do excesso absorvido. Porém, em algumas pessoas portadoras da “doença de Wilson”, a exposição ao fumo metálico por cobre pode causar sérias consequências. A principal característica da doença é o acúmulo de cobre nos tecidos, o que pode ser potencializado pela exposição aos fumos metálicos causados por este agente.
  • Alumínio: possui pouco significado toxicológico nas operações com solda, porém, vem sendo relacionado com doenças como fibrose pulmonar, bronquite e uma condição especial congestiva e anestésica dos dedos das mãos. O alumínio também vem sendo relacionado à elevação na mortalidade por câncer de pâncreas e rim.
  • Fluoretos: alguns processos de soldagem dão origem a fumos com compostos de flúor devido ao percentual de fluoreto de cálcio presente na composição dos eletrodos. A intoxicação por fluoreto é conhecida como “fluorose”, uma doença crônica e incapacitante caracterizada principalmente por osteoclerose generalizada. No quadro, podem aparecer lesões dentais, aumento da densidade óssea e calcificações de ligamentos, evoluindo para limitação de movimentos.
  • Ferro: é o componente que participa em maior proporção na composição dos fumos de soldagem. Não representa nenhum risco específico à saúde, mas pode originar uma pneumoconiose chamada “siderose”, devido à inalação da poeira do ferro. Comumente a siderose também é chamada de “pulmão de soldador”.
  • Crômio: grande significado nas operações de soldagem de aço inoxidável, já que os fumos liberados neste processo possuem alta proporção de crômio. A exposição a este agente implica em risco de aumento na incidência de câncer de pulmão. Alguns outros efeitos do crômio como dermatites e úlceras de pele estão relacionados com exposição às névoas ácidas das operações de cromagem e não à soldagem.
  • Chumbo: usualmente, na soldagem industrial, a exposição ao chumbo não é muito frequente. Porém, há chapas de aço revestidas de chumbo, que também participam da constituição de ligas de bronze e, eventualmente, latão. A intoxicação por chumbo, conhecida como “saturnismo”, é do tipo crônica, pois o metal acumula-se na circulação periférica, em órgãos como fígado, baço, rins, coração, pulmões, cérebro, músculos e sistema ósseo, afetando diretamente os sistemas nervoso, renal, reprodutor, gastrintestinal e hematopoético. Resumindo, afeta o sistema responsável pela formação e desenvolvimento das células sanguíneas.
  • Magnésio: considerado agente de baixa toxicidade, porém, há referências no aumento de transtornos gastrintestinais.
  • Manganês: um dos componentes mais comuns nos eletrodos e consequentemente dos que mais causam consequências à saúde. A exposição prolongada a fumos de manganês pode causar danos ao sistema nervoso central e aumento na incidência de doenças respiratórias. Os sintomas mais frequentes são: fraqueza nas pernas, lentidão de movimentos (inclusive na fala), tremores e movimentos musculares involuntários.
  • Cádmio: a inalação de fumos de cádmio afeta primeiramente o sistema respiratório. Os rins também podem ser afetados. A exposição pode resultar em edema pulmonar e óbito. Outros sintomas decorrentes da inalação deste metal são: ressecamento da garganta, tosse, dor de cabeça e vômitos. Os óxidos de cádmio são carcinogênicos.
  • Níquel: possui maior recorrência nas soldas de aço inoxidável e nas ligas metálicas com componentes de zinco. Dermatites são muito comuns, mas os mais graves são os efeitos carcinogênicos e mutagênicos.

Avaliação de fumos metálicos no ambiente de trabalho

A parte mais importante na prevenção dos riscos do processo de soldagem é a fase de reconhecimento.

Caso algum agente nocivo presente nos fumos da solda não seja reconhecido, por seguinte, não será avaliado e a saúde do trabalhador pode ser prejudicada.

Por isso, é preciso realizar uma boa avaliação de quais agentes nocivos estão presentes no metal  base que está sendo soldado e na vareta ou eletrodo utilizado.

A partir da avaliação qualitativa dos riscos químicos identificados nos “fumos metálicos”, pode-se estabelecer uma estratégia de amostragem pela qual se estabelece o número de amostras e funcionários a serem avaliados, dias e períodos medidos, equipamentos a serem utilizados na coleta de amostras, análises químicas e estatísticas a serem efetuadas.

Como vimos anteriormente, o processo de soldagem pode conter enorme quantidade de metais liberados no processo, portanto, há também formas diferentes de avaliá-los quantitativamente. Bombas de amostragem são a forma mais comum de avaliar os agentes presentes nos fumos da solda.

Para avaliação de campo deve-se seguir os critérios e procedimentos descritos na NHO-08 da FUNDACENTRO (coleta de material particulado sólido suspenso no ar de ambientes de trabalho) e as orientações e metodologias sugerida pelo seu laboratório de confiança.

Os resultados da avaliação em campo devem ser enviados ao laboratório. Após análise laboratorial, deve-se analisar a conclusão e verificar os limites de tolerância, se estão de acordo com os limites estabelecidos pela NR-15 ou, caso não conste na norma, verificar os limites estabelecidos pela ACGIH.

A avaliação dos agentes químicos liberados no processo de soldagem é essencial para identificação dos riscos existentes no ambiente de trabalho, possibilitando obter sua concentração real para fins de relação com os limites de tolerância presentes em normas nacionais e internacionais.

Medidas de controle

Tratando-se de um risco em que não há possibilidade de evitá-lo (visto que a solda faz parte de um processo e não temos como não executá-la) faz-se necessário algumas medidas de controle como equipamentos de proteção coletiva e individual.

Dissipar os gases e fumos para que os colaboradores não fiquem expostos a eles, para que não ocorra o surgimento de doenças ocupacionais, é uma das melhores formas de prevenção. Para tanto, exaustores e sistemas de ventilação são altamente recomendados sempre que for possível.

O uso destes sistemas não isenta a necessidade de utilização de EPIs. Vejamos alguns dos equipamentos mais utilizados como forma de prevenção:

  • Avental de raspa;
  • Luvas de vaqueta ou de raspa;
  • Touca de soldador;
  • Máscara para fumos de solda;
  • Máscaras de solda com lentes;
  • Óculos de proteção.

Além das medidas de proteção (coletiva e individual) é fundamental que haja um programa de gestão para avaliar de forma precisa se as medidas utilizadas estão sendo eficientes.

Portanto, aliar informações documentais, medições, programas e resultados de exames é de sua importância para controlar os riscos existentes, além é claro de analisar questões comportamentais do dia a dia, exigindo sua adequação e consequente sucesso.

Fumos metálicos no eSocial

A tabela 23 apresenta centenas de produtos químicos e, como vimos anteriormente, fumos metálicos podem ser consequências de metais diferentes, portanto, identificados de formas diferentes no e-Social.

Sendo assim, não encontraremos na tabela 23 o termo “fumos metálicos”, já que refere-se a forma como os agentes estão dispersos no ambiente. Por isso, precisamos identificar os agentes nocivos, geralmente metais, presentes no processo de soldagem e que podem ser respirados pelo trabalhador.

Por exemplo, se a medição indicou “óxido de magnésio” como componente daquele fumo metálico, seu código na tabela 23 é “02.01.610”, e assim sucessivamente.

Portanto, para facilitar a identificação precisa do agente, verifique o número de registro CAS. CAS iguais, se referem ao mesmo agente, mesmo que com nomes diferentes.

O assunto fumos metálicos é bem amplo e desperta muitas dúvidas, realmente. Caso tenha alguma, manda pra cá que a gente se vira nos trinta pra resolver, beleza?

Até o próximo artigo!

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1 comentário em “Reconhecimento de riscos: desmistificando os fumos metálicos”

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